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Direto da Concha: ostras

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Aproveite para comer ostras antes que o verão comece – no período mais quente do ano elas ficam menos saborosas, mas até dezembro você ainda pode aproveitar. Quer uma dica para escolher? Quanto menor, melhor.

Nas duas principais regiões produtoras do Brasil, Florianópolis e Cananeia, o discurso de quem trabalha com ostras é o mesmo: o período menos indicado para comê-las é o verão, quando elas ficam mais fracas e mirradinhas.

As ostras ficam menos saborosas no verão

Acontece que, entre dezembro e fevereiro, o aquecimento da água estimula a desova e a energia acumulada na forma de glicogênio nos meses mais frios é transformada em gametas que são lançados ao mar, “esvaziando” as ostras da carne e sabor. Ironia das ironias, é justo quando acontecem os picos de venda – culpa do calor, que aumenta nosso apetite por esses deliciosos moluscos que parecem carregar em sua carne de aparência leitosa e textura escorregadia o sabor do mar inteiro. Não que não possam ser consumidas nesses meses, mas quer um conselho? Aproveite que o tempo esquentou e coma suas ostras já.

Não é apenas na época de consumo que o apetitoso bivalve nos prega peças. Acreditando ou não nos seus alardeados poderes afrodisíacos, você precisa saber que, na hora de comer ostras, vale a máxima de que tamanho não é documento. Isso mesmo: quanto menor a ostra, mais concentrado é seu sabor. Recomenda-se, portanto, que as pequenas (de até 8 cm) sejam consumidas in natura – com ou sem limão, você decide. Já as maiores são ideais para gratinados e ensopados.

Para que você possa comer suas ostras com conhecimento de causa, a reportagem do Paladar visitou produtores em Florianópolis e Cananeia e investigou como elas são cultivadas e transportadas até chegar à mesa.
Quer um exemplo? Antes de serem lindamente dispostas em um prato sobre uma camada de gelo em algum restaurante paulistano, as ostras de Cananeia foram retiradas das raízes do mangue com uma foice por alguém que afundou o pé na lama até a altura das canelas, e levadas em cestas para os tabuleiros, onde ficaram meses crescendo.

Bem diferente do que acontecia ali até os anos 1990, antes da criação da Reserva Extrativista do Mandira, que freou a extração predatória: “Vendíamos já fora da concha, em pacotinhos de 800g ou 900g para os atravessadores, que pagavam uma miséria”, diz Agnaldo Coutinho, de 30 anos, tirador de ostras desde os 7.

Berçário. Já as ostras de Santa Catarina que são vendidas para o Brasil inteiro nascem no mesmo lugar: no laboratório da Universidade Federal, de onde saem em forma de sementes e são colocadas para crescer em recipientes próprios em baías de água fria como a de Ribeirão da Ilha e Naufragados, no sul de Florianópolis. A espécie comercializada é originária do Pacífico, a Crassostrea gigas, que cresce rápido por aqui – e, como também é cultivada em outras partes do mundo, tem seu manejo bem conhecido.

Mesmo onde a produção é controlada e as condições são ideais, como em Florianópolis, os caprichosos moluscos seguem surpreendendo. Pois não é que no território dominado pelas ostras importadas do Pacífico também cresce uma espécie nativa que se fixa nas pedras nas baías de águas frias? Como as ostras de Cananeia, os moluscos naturais de Florianópolis são menores que as gigas. E têm sabor bem mais concentrado – tanto que os manezinhos, como são conhecidos os nativos da ilha, dizem que preferem as “de raiz” às cultivadas.

Como escreveu a americana M.F.K. Fisher em seu clássico Consider the Oyster, de 1941, “o sabor de uma ostra depende de várias coisas. Primeiro, se ela estiver fresca, doce e saudável, terá sabor bom, simples assim… sabor bom, isto é, se o apreciador gostar de ostras”. O sabor seguinte, ela escreveu há mais de 70 anos, seria conferido pela região de onde veio o molusco.

Em uma transposição livre para o nosso litoral, poderíamos dizer que, diferentemente de suas primas paulistas, as ostras catarinenses não têm o sabor terroso do manguezal, e sim o frescor marinho da praia.
Pegando emprestado um termo do mundo dos vinhos – e de terra firme – é como se existisse um terroir marinho (ou “meroir”, como brincou Rowan Jacobsen em A Geography of Oysters, lançado nos EUA em 2007).
Afinal, as ostras assumem muito do sabor do ambiente em que estão mergulhadas. De volta aos ensinamentos de Fisher para provar uma ostra, no terceiro momento ela terá “o gosto que o apreciador espera, o que, é claro, depende inteiramente do apreciador”. Grata missão, leitor: essa parte fica por sua conta.

Disque-Ostra
Produtores de Santa Catarina e Cananeia entregam ao consumidor final, mas exigem um pedido mínimo. Chame os amigos e lembre-se de ter ao menos um que saiba abrir ostras
De Cananeia
Jacosta, tel. 5669-3049 (a dúzia custa de R$ 8 a R$ 12)
Cooperostra, tel. (13) 3851-8339 (5 dúzias R$ 60)
De Florianópolis
Ostra Viva, tel. 8353-6953 (cinco dúzias custam de R$ 90 a 100)
Atlântico Sul, tel. 9400-1659 (cinco dúzias saem por R$ 90 a R$ 125)

Berçário e água fresca
O mar pontilhado por um sem fim de boias em Ribeirão da Ilha, sul de Florianópolis, dá pistas sobre a importância da aquicultura para a ilha – Santa Catarina é o maior produtor de ostras do Brasil.

A Ostra Viva, uma das fazendas marinhas instaladas lá, entrega até oito toneladas de ostras por mês ao mercado. Só para São Paulo, viajam de avião ou carro refrigerado 40% da produção. Embora haja entregas também para pessoas físicas, as ostras abastecem principalmente restaurantes de peso, como Fasano, Don Curro e Kinoshita.

Originárias do Pacífico, mais precisamente da costa asiática, as ostras cultivadas em Santa Catarina – da espécie Crassostrea gigas – não se reproduzem naturalmente em águas brasileiras.

Desde 1990, o Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC induz a desova e cultiva as larvas, que passam por uma metamorfose em que assumem um formato que já lembra uma ostra, só que minúscula, menor que um centímetro. São as “sementes”, vendidas às fazendas marinhas.

Mergulhadas no mar limpo, cheio de nutrientes, as ostras parecem estar com a vida ganha. Mas há muito trabalho a ser feito. Protegido por galochas e luvas, Sérgio Bittencot, funcionário da fazenda Ostra Viva, levou a reportagem do Paladar de barco para ver de perto o manejo.
Até atingirem tamanho para o consumo, os moluscos passam de 6 a 10 meses no mar, sendo transferidos entre diferentes estruturas de acordo com o tamanho. O primeiro estágio são caixas flutuantes, protegidas por uma tela de trama bem fechada.

Ao ganharem tamanho, vão passando para caixas com telas mais abertas até o momento de serem armazenadas nas chamadas lanternas, estruturas tubulares e compartimentadas em “andares”, que podem guardar até 20 dúzias do molusco. Do dia em que é colocada no mar até ser despachada para consumo, a ostra muda pelo menos quatro vezes de recipiente.
“Análises laboratoriais da água são feitas toda semana para monitorar as condições e garantir o SIF, selo que permite a comercialização fora do Estado”, diz Rafael Westphal, engenheiro aquicultor e sócio-proprietário do Ostra Viva.

Uma única ostra é capaz de filtrar até 80 litros de água por dia para se alimentar. Logo, a qualidade da água onde ela cresce é essencial à sua própria sobrevivência e à saúde de quem vai comê-la. O mar da região tem quantidade de coliformes e toxinas bem abaixo dos níveis máximos exigidos. A água raramente ultrapassa os 18°C no inverno, ideal para que ela fique gordinha e saudável.

Por OESP/Paladar

Boa mesa: quinze dicas de vinho em busca da harmonização perfeita…

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Muitos que acompanham (quase) diariamente o Histórias e Vinhos devem ter percebido a primeira pequena-grande ausência aqui no espaço, que não recebia atualizações desde o dia 07/julho. Mas esta semana foi um período de férias merecidas, mas que também permitiu provar algumas novidades relacionadas ao mundo dos vinhos que serão expostas aqui em breve.
Para o retorno, com chave-de-ouro, preparei algumas dicas de harmonização com vários tipos de uvas e pratos que combinariam bem. Vale lembrar que não sou chef, mas sim um cozinheiro ocasional, que gosta de tentar, experimentar e inovar mas, principalmente, aproveitar tudo isso sem complicações.
Tente também suas harmonizações, sem regras ou limites. Qualquer coisa interessante para compartilhar, o espaço está aberto. Aproveite:

1. Pinot Noir: Exuberante
Pratos com aromas e sabores leves e receitas que contém cogumelos, de médio corpo e sem molhos pesados, mas cheios de complexidade, harmonize com um bom Pinot Noir, principalmente da região da Borgonha (França), ou italianos de Dolcetto. Dica de receita: Massa recheada com mussarela de búfala com molho de shitake e alho poró.

2. Chardonnay: de A a Z
Peixes gordurosos ou peixes preparados com molhos densos, a sedosa Chardonnay poderá ser uma boa escolha. Regiões como a Califórnia, Chile ou Austrália poderão fornecer bons exemplares, que combinarão bem com um salmão ou frutos do mar com molhos exuberantes. Adapte o tempo de permanência no carvalho ou o frescor e acidez do vinho jovem ao conteúdo do seu prato. Dica de receita: Salmão grelhado na manteiga com salada de abacate.

3. Champagnes e espumantes: Refrescância em borbulhas
Pratos salgados pedem um bom espumante. A maioria dos espumantes secos, como Champagne brut ou o Cava espanhol mantém um leve toque de doçura, o que os tornam refrescantes quando servidos com alimentos salgados. Lembre-se sempre dos espumantes nacionais, qualidade e preços interessantes. Dica de receita: Canapés de camarão ao curry.

4. Cabernet Sauvignon: Fabulosamente adaptável
Os vinhos de cabernet sauvignon são unanimidade, em todas as faixas de preço. Em geral, eles pedem uma carne suculenta, pois a cada gole, os taninos firmes sempre deixam o paladar pedindo por mais um pedaço de carne. Californianos a Bordeaux, sem moderação. Dica de receita: Carré de cordeiro com ervas finas.

5. Sauvignon Blanc: Leveza intrínseca
Para a combinação com o Sauvignon blanc, o prato não pode estar sobrecarregado. Carnes leves, preferencialmente brancas. Molhos leves e aromáticos. Nesta classe você pode incluir ainda o Vinho Verde de Portugal e o Verdejo da Espanha. Dica de receita: Escalope de porco ao molho de laranja.

6. Rosés: Diferentes
Alguns queijos podem ser perfeitamente combinados com vinhos brancos ou tintos. Mas a grande beleza da vida é inovar e provar coisas diferentes, então eu proponho os rosés, que combinam a acidez do vinho branco e a fruta do vinho tinto. Então já sabe, um prato rico em queijo, opte por um rosé. Dica de receita: Suflê de queijo.

7. Pinot Grigio: Ainda mais diferente
Mariscos, ostras e frutos do mar, preparados de maneira suave podem ser bem combinados com a Pinot Grigio, que ainda não tem muita atenção no Brasil. Outros vinhos delicados como o Arneis, da Itália, ou o Chablis, da França, podem ser boas opções. Dica de receita: Ostras gratinadas.

8. Malbec: Qualidade incontestável
A combinação do Malbec com molhos tipo barbecue pode ser interessante. O doce-picante-condimentado não vai ofuscar estes vinhos e pode ressaltar o seu peso. Boas opções seriam os clássicos Malbec argetinos, de boa relação preço-qualidade no mercado brasileiro. Dica de receita: Costelinha de porco defumada ao molho barbecue.

9. Moscato d´Asti: Doce como as mais doces sobremesas
Sobremesas de frutas podem ser bem harmonizadas com espumantes como o Moscato D´Asti, demi-sec, que ajuda a enfatizar a fruta, ao invés do açúcar. Dica de receita: Figos em calda mel.

10. Syrah: Contrastando o condimentado
Alie a beleza da Syrah com pratos levemente condimentados, o resultado será interessante. Quando uma carne estiver picante, como um frango asiático ou aperitivos australianos, procure um vinho tinto com notas de especiarias. Syrah americano, Cabernet Franc francês ou até os exóticos Xinomavro gregos são boas opções. Dica de receita: Hamburger caseiro com cominho picante.

11. Zinfandel: Emparelhamento cremoso
A harmonização de Zinfandel com patês, mousses e terrines é muito boa. Uma combinação de adjetivos e que funciona bem. Zinfandel, Nero d´Avola da Itália e Monastrell da Espanha acompanham bem pratos cremosos. Dica de receita: Mousse de frango e gorgonzola cremoso.

12. Riesling: Dos extremos e vice-versa
Os riesling podem acompanhar pratos extremos, que combinam ingredientes doces e picantes. De asiáticos a indianos. Dica de receita: Salada verde com torresmo.

13. Champagne rosé: Elegante, mas não tanto
O champagne rosé é pouco consumido, mas é importante lembrar que pode ser uma boa opção para um jantar descontraído e não só para grandes ocasiões, principalmente porque combina com uma grande variedade de pratos. Sabor e riqueza. Dica de receita: Risoto de limão e palmito.

14. Vinhos de sobremesa: Boa pedida
Muitas pessoas gostam de harmonizar os pratos principais com seus vinhos. Mas, na hora da sobremesa, a grande minoria consome os vinhos de sobremesa ou tenta uma combinação interessante. Brancos ou tintos. Dica de receita: Strogonoff de nozes com um Tokaji da Hungria.

15. Vinhos do Velho Mundo: História e tradição
Os vinhos do Velho Mundo são intimamente ligados aos pratos do Velho Mundo. A dica que eu mais recomendo: Combine a origem do prato com a origem do vinho, que cresceram e evoluíram juntos ao longo dos séculos. Receitas toscanas e os toscanos, formam um ajuste natural. Pratos espanhóis e portugueses com seus vinhos de uvas típicas. Dica de receita: Paeja completa e um bom Rioja.

Por Histórias e Vinhos blog

E polenteiro! Saiba como foram criadas as redondas paulistanas e aprenda receitas para comemorar o dia da pizza

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Depois de Nova York, a cidade que mais tem pizzarias no mundo é São Paulo. Os milhares de estabelecimentos espalhados no território paulistano servem redondas bem diferentes das clássicas napolitanas. Doces e salgadas, com massa grossa, fina, bordas recheadas e recheios inusitados, assim são as pizzas na capital brasileira da gastronomia.

O fenômeno na cidade é tão marcante que existe até uma data oficial para a receita. Instituído no calendário paulistano em 1985, pelo então secretário de turismo Caio Luís de Carvalho, em 10 de julho comemora-se o dia da pizza. A festa movimenta os restaurantes da cidade e dá direito a uma gigante, preparada, pela quinta vez, pela Associação Pizzarias Unidas — este ano será servida uma marguerita com 2,40 metros de diâmetro, no próximo dia 9, a partir das 11h30, no Instituto Meninos de São Judas Tadeu.

As primeiras pizzarias surgiram em Nápoles, na Itália, na segunda metade do século XVIII. Mas a bolacha de massa branca e sem cobertura só ganhou adição de molho de tomate no século seguinte. Em 1889, a redonda se consagrou com a criação de Raffaele Esposito. A margueritha homenageava a rainha de mesmo nome, e levava as cores da bandeira do País recentemente unificado: o vermelho do molho, o verde do manjericão e o branco da mussarela.

Depois da Segunda Guerra Mundial, as casas napolitanas se espalharam pelo país da bota e, com a imigração italiana, no final do século XIX, apareceram em diversas cidades do mundo. A pizza se tornou, então, um dos pratos mais populares e apreciados do mundo.

Em São Paulo, as primeiras casas especializadas surgiram no bairro do Brás, onde se concentrava boa parte da colônia italiana, e logo foi parar no Bexiga. A mais antiga em funcionamento é a Castelões, fundada em 1924, e que, no começo, só servia os sabores aliche e mussarela.

A necessidade de substituir os ingredientes originais pouco encontrados por aqui fez a pizza brasileira ganhar identidade própria. O manjericão foi trocado por orégano seco e a redonda ganhou mais tomate, queijo e uma porção de outras coisas. O surto criativo gerou inúmeras receitas apetitosas e tantas outras esquisitas.

Os hits paulistanos surgiram na década de 1980 e nunca mais saíram de cartaz. De abobrinha, criada na pizzaria Cristal; rúcula com tomate seco; shiitake, shimeji e champignon; quatro queijos (Catupiry, gorgonzola, parmesão e mussarela). Já no final dos anos de 1990, a pizzaria Bráz botou a colher na receita local e resgatou a massa grossa, de estilo italiano. No embalo, criou ainda a caprese – releitura da salada de mussarela de búfala, tomate e manjericão, que também virou moda rapidinho.

Por tudo isso, é quase lei na capital paulista: sexta-feira e domingo à noite são dias oficiais de comer pizza. Como ainda é quarta-feira, dá tempo de aprender a preparar sua redonda até lá. Quem resiste?

Ingredientes:

Para a massa
15g de fermento biológico fresco
1 colher (sopa) de açúcar
10 ml de azeite extra virgem
1 colher (sopa) de sal
300 ml de água mineral em temperatura ambiente
700g de farinha

Para o molho
1,5kg de tomate maduro
1 dente de alho bem picado
1 pitada de orégano
Sal a gosto

Para a cobertura caprese
1 porção de massa para pizza
100g de molho de tomate
150g de mussarela especial em fatias
8 fatias de tomate caqui
8 folhas de manjericão-gigante
8 fatias grossas de mussarela de búfala no soro
80ml de pesto de azeitonas pretas (500g de azeitonas pretas sem caroço, 500ml de azeite extravirgem, 1 dente de alho)

Modo de Preparo:

Para a massa

Disponha numa vasilha o fermento biológico e o açúcar e misture até derreter. Junte o azeite e o sal. Misture com uma das mãos e junte a água. Misture mais uma vez e coloque a farinha aos poucos, trabalhando com uma das mãos. É bem mais fácil misturar a farinha em várias etapas.

A massa deve levar perto de uns dez minutos para começar a se soltar das mãos. Então basta trabalhar mais uns cinco minutos, sem sovar, para ela ficar lisa, no ponto. Deixe descansar durante 2 horas. Faça bolas de 120 gramas e deixe descansar por mais duas horas.

OBS.:É importante que seja mineral, a água da rede pública possui muitas substâncias químicas, como o cloro, que podem influir negativamente. Além disso, a água não deve ser fria demais, o que dificulta a ação do fermento

Para o molho
Corte os tomates em metades e retire as sementes com os dedos. Passe por um moedor manual de carne e deposite numa vasilha. Se não tiver moedor, despedace os tomates com as mãos. Nunca use o liquidificador. Junte o alho ao tomate. Acrescente o orégano.

Para o pesto
Coloque metade das azeitonas, o azeite e o alho no liquidificador. Bata e acrescente aos poucos o restante dos ingredientes

Preparo da pizza
Abra a massa (seguindo deixando o centro mais fino e as bordas – corniccione – mais altos). Coloque o molho de tomate sobre a massa e espalhe bem, usando uma colher. Depois disponha a mussarela especial. Leve ao forno. Retire a pizza assada e coloque por cima as fatias de tomate-caqui. Sobre cada tomate, coloque uma folha de manjericão com uma fatia de mussarela de búfala por cima. Para terminar, distribua o pesto de azeitona sobre as fatias de mussarela.

**Receita da pizzaria Bráz, em São Paulo

Quando um nova-iorquino se muda para São Paulo é impossível evitar a pergunta: “Qual das duas cidades tem a melhor pizza?”. Ou, mais comum: “A pizza paulistana é a melhor do mundo, né?”.

Uma observação somente: os nova-iorquinos também acham que a pizza deles é a melhor do mundo. E daí temos um problema, porque as pizzas das duas cidades são muito, muito diferentes.

A diferença mais marcante é a grande quantidade de ingredientes que os paulistanos colocam sobre a pizza. Em Nova York, é queijo, tomate e mais um ingrediente (pepperoni, por exemplo), no máximo. Nos meus primeiros meses em São Paulo, quando comi pizza portuguesa, baiana ou vegetariana – com mil ingredientes em cima de cada uma – , minha resposta sempre era: “A pizza de São Paulo é muito boa. Só que não é pizza.”

Ou seja, não era a pizza que eu conhecia. É que pizza em Nova York e São Paulo não é só pizza. É cultura. E são culturas tão diferentes que achava impossível comparar as pizzas das duas cidades – até a semana passada, quando estive em Nápoles, Itália.

Lá a pizza não é só cultura. É vida. Da legitimidade da pizza de Nápoles ninguém pode desconfiar. Assim que, entre São Paulo e Nova York, ganha quem tem a pizza que mais se parece com a pizza napolitana. Capisce?

Vamos à comparação:

1 – Ingredientes: Pizza para mim, pelo menos para meu lado nova-iorquino, é massa, molho de tomate e queijo. E, talvez, um ingrediente: pepperoni, por exemplo. Ou um monte de alho picado (hummm). Por outro lado, minha alma paulistana entende que pode colocar mais, sem se esquecer dos elementos básicos. Em Nápoles? Tem a famosa Da Michele (que apareceu no livro Comer, Rezar, Amar) onde só há duas opções: pizza margherita e pizza marinara. Mas na Pizzeria Starita, também muito famosa (o dono até serviu pizza ao Papa João Paulo II), o cardápio é muito variado, como em São Paulo. Empate.

2 – Pizza boa e barata: Nem tudo pode ser perfeito. Quando se bota presunto, azeitona, palmito, catupiry, frango, calabresa, abacaxi, rúcula e mais ingredientes sobre a pizza, a massa, o molho de tomate e o queijo perdem importância? Em Nova York uma pizzaria de bairro não sobrevive nem uma semana com a massa de cartolina e omolho de baixa qualidade de muitas pizzarias que já provei em São Paulo. Em Nápoles também não. Até pizzas baratíssimas que eu provei – de 3 euros ou 4 euros (R$ 7 a R$ 9) – tinham massa perfeita, tomate fresco e mozzarella de búfala de qualidade. Vantagem: Nova York

3 – Pizza boa e cara: Por fim, descobri onde existem ótimas pizzas em São Paulo: nos lugares caríssimos, como Bráz e Veridiana. Tudo da melhor qualidade. Agora, gente, isso é pizza, a melhor que já provei. Nova York também tem pizzarias “de grife”, tipo Motorino, mas não são tão parte da cultura e é raro encontrar uma pizza por mais de R$ 30. E esses preços paulistanos? Mais de R$ 40, às vezes até R$ 50, por uma pizza? Parece piada, mas só os donos das pizzarias que estão rindo. E muito. Vantagem São Paulo, mas é vitória pírrica.

4 – Forma: É tão comum em Nova York pedir pizza por “slice” (uma fatia) que o melhor blog sobre pizza se chama Slice mesmo. A pizza de São Paulo se pede inteira, com a exceção de poucos lugares, como O Pedaço da Pizza e a ótima ideia de rodízio de pizza (Detalhe: o rodízio de pizza é minha invenção brasileira favorita, muito melhor do que a feijoada ou a bossa nova). Em Nápoles, apesar de poder comprar um pedaço em muitos lugares, a cultura prevalente é pedir uma pizza inteira. Leve vantagem: São Paulo.

5 – Quem serve: Em São Paulo, o garçom chega com a pizza e depois serve as primeiras fatias a todo o mundo. Depois volta para dar as segundas e as terceiras. Uma das minhas atividades favoritas nas pizzarias paulistanas é começar a pegar um pedaço e ver o garçom correr à mesa para me ajudar. Em Nova York, ao pedir uma pizza inteira, você mesmo pega o primeiro pedaço, o segundo e o terceiro (No meu caso, também o quarto e o quinto). Em Nápoles? As pizzas são de tamanho individual e nem chegam divididas em fatias. Ambos estamos errados. Empate.

6 – Com garfo e faca ou com a mão: Pizza em São Paulo se come com garfo e faca. Muito civilizado. Pizza em NY se come com a mão. Muito fácil. O paulistano, sem dúvida, acha o costume nova-iorquino anti-higiênico. Mas comer com garfo e faca parece tão esquisito em Nova York que, quando o Donald Trump foi filmado comendo pizza assim na Times Square, foi ridicularizado. É só ver a raiva do comediante Jon Stewart neste clip (começa no 4:15) para entender o que os nova-iorquinos acham de comer pizza com garfo e faca (e nem precisa entender o inglês). Também não perca a demonstração de como comer uma “slice” (a 5:30). Porém, em Nápoles, é com garfo e faca que se come a pizza. Vantagem: São Paulo

7 – Quando?: Em São Paulo, domingo é o dia oficial da pizza. Em Nova York, o dia oficial da pizza é: todos os dias, no almoço ou no jantar, como lanche, ou até para comer antes de sair para um restaurante caro para não gastar demais (Bom, esse último exemplo talvez só eu faça). Nápoles? Pizzarias lotadas o tempo todo também. Vantagem: Nova York.

8 – Quem faz: O cara que faz pizza, em Nova York, se chama “pizzamaker” ou pior, “pizza guy”. Em São Paulo é “pizzaiolo”. Em italiano como deve ser? Vantagem: São Paulo

9 – Azeitonas: Quem decidiu, em São Paulo, botar azeitonas em qualquer pizza? Não foi um napolitano. Em Nápoles, como em Nova York, a pizza só tem azeitonas se você pede com azeitonas. Vantagem: Nova York

10 – Condimentos: Em São Paulo muitas pessoas colocam azeite de oliva na pizza, algo que me pareceu muito esquisito quando vi pela primeira vez – jogar mais gordura sobre uma comida gordurosa? Em Nova York muitas pessoas botam pimenta calabresa ou queijo parmesão nas “slices”. Você pode usar o mesmo argumento para o queijo: uma comida com queijo precisa de mais queijo? Em Nápoles a pizza é tão boa que ninguém bota nada em cima. Faz sentido. Empate

É óbvio que as tradições das pizzas em São Paulo e Nova York são bem diferentes, que cada uma tem suas qualidades e que, apesar de os dois povos terem suas discordâncias, podemos nos respeitar. Mas só pode haver uma cidade ganhadora. Então, o envelope, por favor. A melhor pizza do mundo é… a de Nápoles.

Sete erros para não cometer quando comer uma pizza na viagem

1) Avaliar como ruim a pizza de outra cidade só por ser diferente. Claro que é diferente. Viva a diferença!

2) Avaliar a pizza paulistana sem provar as melhores, como a da Bráz. (É só ganhar na Mega-Sena primeiro.)

3) Avaliar a pizza de Nova York sem provar as melhores: Joe’s, por exemplo, ou os lugares mencionados nesta matéria do blog Slice.

4) Usar garfo e faca numa pizzaria nova-iorquina…

5) … e não pegar a fatia com guardanapos!

6) Colocar azeite de oliva na sua pizza em Nova York ou Nápoles.

7) Colocar ketchup ou maionese na sua pizza em São Paulo, Nova York ou, pelo amor de Deus, em Nápoles. Uma pizza que precisa de ketchup ou maionese é uma pizza ruim mesmo.

Por IG Comidas/Sete erros e Quitutes e Quitandas