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Arqueologia no Brasil

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A arqueologia no Brasil teve início em 1834, com o dinamarquês Peter Lund, que escavou as grutas de Lagoa Santa (MG), onde foram encontrados ossos humanos misturados com restos animais com datação de 20 mil anos.

A arqueologia no Brasil teve início em 1834, com o dinamarquês Peter Lund, que escavou as grutas de Lagoa Santa (MG), onde foram encontrados ossos humanos misturados com restos animais com datação de 20 mil anos.

No segundo reinado, Dom Pedro II implantou as primeiras entidades de pesquisa, como o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Em 1922, surgiram outras organizações como o Museu Paulista e o Museu Paraense.

Alguns estrangeiros começaram a vir para o País em 1950, e passaram a explorar sítios arqueológicos na Amazônia, no Pará, no Piauí, no Mato Grosso e na faixa litorânea. Em 1961, todos os sítios arqueológicos foram transformados por lei em patrimônio da União, a fim de evitar sua destruição pela exploração econômica.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou 8.562 sítios arqueológicos. Entre eles, destaca-se o da Pedra Furada (PI), onde a brasileira Niède Guidon localizou, no ano de 1971, restos de alimento e carvão com datação de 48 mil anos. Estas observações vêm a contrariar a tese aceita de que o homem teria chegado à América há cerca de 12 mil anos, pelo Estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca.

Em 1991, a norte-americana Anna Roosevelt, arqueóloga, descobriu pinturas rupestres na caverna da Pedra Pintada (PA) com mais de 11 mil anos, e, em 1995, revelou sítios cerâmicos na Amazônia com datação de 9 mil anos.

Centros Arqueológicos do Brasil

Os centros arqueológicos incluem os sambaquis, as estearias, os mounds e também hipogeus, cavernas, etc.

1. Sambaquis: palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e ki (depósito). Possuem formações de pequena elevação formadas por restos de alimentos de origem animal, esqueletos humanos, artefatos de pedra, conchas e cerâmica, vestigíos de fogueira e outras evidências primitivas.

2. Estearias: jazidas de qualquer natureza que representam testemunhos da cultura dos povos primitivos brasileiros.

3. Mounds: monumentos em forma de colinas, que serviam de túmulos, templos e locais para moradia.

4. Hipogeus: ambientes subterrâneos, às vezes com pequenas galerias, nas quais eram sepultados os mortos.

Os principais Centros Arqueológicos do Brasil são:

Centros Arqueológicos
Bacia Amazônica Cunani, Maracá, Pacoval, Camutins, Sambaqui de Cachoeira, Sambaquis da Foz do Tocantins e de Cametá, Santa Izabel, Tesos e Mondongos de Marajó, Caviana, Santarém, Taperinha, Miracanguera, Rio Tefé, Irapurá, Cerro do Carmo, Rio Içana, Anuiá Luitera, Apicuns, Tijolo, São João e Pinheiro.
Zona Maranhense Marobinha, Pindaí, Ilha de Cueira, Florante, Lago Jenipapo, Armindo, Lago Cajari e Encantado.
Zona Costeira do Norte e Centro Cunhaú, Valença, Guaratiba, Macaé, Parati, Saquarema, Feital, Cabo Frio, Cosmos.
Zona Costeira do Sul Santos e São Vicente, Conceição de Itanhaém, Iguape, Cananéia, Sabaúna, Guaraqueçaba, Paranapaguá, São Francisco, Imbituba, Laguna, Joinvile, Sanhaçu, Armação da Piedade, Porto Belo, Rio Tavares, Rio Cachoeiro, Canasvieiras, Rio Baía, Ponta do Guaíva, Vila Nova, Itabirubá, Penha, Rio Una, Magalhães, Porto do Rei, Laje, Sambaqui das Cabras, Sambaqui ao sul de Tramandaí, Sambaquis do Arroio do Sal, Luiz Alves, Carniça, Cabeçuda, Caputera, Perchil, Ponta Rasa, Sambaquis nas proximidades de Torres.
Zona Central Lagoa Santa

Cunani: descoberto por Coudreau (naturalista) em 1883, explorado e descrito por Emílio Goeldi (1895); urnas antropomorfas guardadas em hipogeus. Hartt descreve as urnas, dizendo que eram empregadas durante as idades da pedra e do bronze, na Europa, e posteriormente por tribos, na América. Informações apontam que os povos etruscos e egípcios também as usavam, assim como também os povos do México e Peru.

Maracá: localizados na Guiana e conhecidas desde 1879, são urnas funerárias em pequenas grutas naturais; nelas aparecem as primeiras formas de corpo humano e animais.

Pacoval: primeiro Mound-builder explorado em Marajó. O material extraído da peça que primeiro aflorou foi um cachimbo. O artefato mais abundante e precioso, por não ser encontrado em outras paragens, é a tanga. Hartt foi quem primeiro estudou seu material, reconhecendo na louçaria linhas clássicas ornamentais, como as gregas e as aspirais e também preferência pelas figuras humana e de animais. Foi observada a ausência de motivos ornamentais inspirados nas plantas; na cerâmica ainda distinguiu grande número de ídolos.

Camutins: mounds situados em Marajó, pouco distantes do Pacoval, contendo louça de igual qualidade no gênero das peças.

Caviana: cerâmica diferente da de Marajó; esse material marca a existência da estação lítica (formação do cerâmio).

Santarém: rico e desenvolvido território, onde os resquícios do homem são encontrados em lugares que lembram as estações e fornecem a melhor cerâmica recolhida de Marajó e Cunani, toda ela trabalhada em estilo semelhante ao das peças chinesas antigas, sem pintura, mas de relevo aperfeiçoado.

Miracanguera: une inúmeros túmulos, verdadeiros vestígios de estações. Barbosa Rodrigues, em 1870, descobriu várias urnas funerárias com formas de seres humanos. Nesta mesma região, entre os Rio Madeira e Santarém, Nimuendaju encontrou peças trabalhadas.

Rio Tefé: perto da embocadura desse rio, o padre Tastevin recolheu inúmeros vasos estudados por Métraux. Apesar de certas particularidades, eles demonstram semelhanças com o material de Santarém e são úteis para estudo da influência que essa região possa ter exercido na louçaria indígena. Na margem do Irapurá, Tastevin deparou-se com uma urna representando o rosto da figura humana, contendo ossos em mau estado de conservação. Urnas funerárias simples foram também descobertas por Nimuendaju em Cerro do Carmo, Rio Içana e Anuiá Iuitera (região do Rio Uapés).

Sambaquis: o exame da louça dos sambaquis, com especialidades do sul, coloca em relevo a inferioridade do material. Nos sambaquis do norte, as cerâmicas são de má qualidade e escassas.

Apicuns: localizada ao pé de pequeno igarapé deste nome, à margem direita do Arapipó.

Tijolo: situada na pequena ilha Furo, na confluência do Rio Inajá com o Pirabas.

São João: localizada em terra firme à margem direita do igarapé Avindeua, próximo à junção com o Rio Pirabas.

Hartt encontrou sambaquis no Amazonas (interior) e em Taperinha, pouco abaixo de Santarém. Deixando a Amazônia, os sambaquis da ilha do Maranhão vêm em primeiro lugar. Na várzea aluvial do Pindaré, no seu afluente Maracu, no lago e Rio Cajari, aparecem nas estearias e sambaquis peças de cerâmica quebrada em abundância, sendo observadas semelhanças com a cerâmica de Cunani.

Os sambaquis do Rio de Janeiro e do Distrito Federal contém ossos e pequena quantidade de barro fino. Já os sambaquis da zona compreendida entre Nordeste e a Bahia tendem a desaparecer.

Nos sambaquis do Paraná, Santa Catarina e litoral de São Paulo são encontrados machados polidos, mãos de pilão, poucos utilitários de cerâmicas, morteiros zoomorfos, etc. Ainda se incluem aqui os sambaquis explorados pelo diretor do Museu Nacional, Roquette Pinto, no Rio Grande do Sul, dos quais foram retirados alguns materiais.

Em Cidreira e Vila das Torres, estão: o Sambaqui das Cabras, próximo à Lagoa D. Antonia, a cerca de 17km ao sul de Tramandaí; outro a cerca de 1km para o sul; outro junto ao Capão do Quirino 16 km perto do Arroio do Sal. Ainda há os quatro sambaquis de Torres, todos de grandes dimensões, sendo um ao chegar à Vila de São Domingos e outros três próximos de Mampituba.

A zona Nordeste, toda faixa litorânea subtropical que se estende do norte da Bahia até a embocadura do Paraíba, nas proximidades do Maranhão, é pobre de centros arqueológicos, apesar de ter sido habitada por antigas e variadas nações indígenas.

Em pedras, os melhores achados da Amazônia são as nefrites trabalhadas (muiraquitãs), gravadas em forma de animal ou de homem. A outra reminiscência que a pedra deixou entre os índios da planície, revelada recentemente por Vernau e Paul Rivet, é a clava, extraída da rocha, que, devido à escassez da pedra na vasta imensidão por onde o Amazonas e os seus grandes tributários derramam suas águas, constituiu ativo comércio de trocas entre os povos da bacia.

As idéias e invenções, do domínio da cerâmica, propagavam–se pelas migrações e pelas trocas. No território que se estende entre os Andes e os vales vizinhos da planície, a economia naturalista possibilitou a penetração das civilizações. As tribos que residiam nas proximidades da montanha recolheram variados elementos dos povos do planalto.

Na Amazônia, acentua-se a evolução da cerâmica na passagem para modelo de homens e animais. Essa modificação pode ser atribuída à influência andina. Em Santarém, é difícil demonstrar a mesma influência, registrando fortes analogias entre a cerâmica de Santarém e a dos povos istmos da América Central.

Nordenskiöld pensa na influência centro-americana, que deve ser contemporânea da que irradiou do Peru e dela emana a idéia dos vasos de três pés e de outros tipos de potes encontrados em Santarém e Maracá

Por Antropologia social blog:
Ambiente Brasil
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Pintura rupestre

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Dos numerosos abrigos que existem no Parque uma parte muito importante apresenta manifestações de atividades gráficas rupestres que, segundo as informações arqueológicas disponíveis e acima citadas, teriam sido realizadas muito cedo na pré-história, por diversos grupos étnicos que habitaram a região.

Durante cerca de doze mil anos, os grupos étnicos que habitaram a região evoluíram culturalmente e as pinturas rupestres constituem um testemunho desta transformação. Pode-se observar esta evolução dos registros gráficos rupestres mediante a identificação de mudanças nas técnicas pictorial ou de gravura empregadas, mas também nas variações dos temas e da maneira como eles são representados. Estas mudanças não são resultado do acaso, mas de uma transformação social gradativa que se manifesta em diferentes aspectos da vida dos grupos humanos, entre os quais está a prática gráfica.

Este costume de se exprimir graficamente é uma manifestação do sistema de comunicação social. Como tal, a representação gráfica é portadora de uma mensagem cujo significado só pode ser compreendido no contexto social no qual foi formulado. Trata-se de uma verdadeira linguagem, na qual o suporte material é composto por elementos icônicos, cuja completa significação perdeu-se definitivamente no tempo por não conhecermos o código social dos grupos que o fizeram. Não podendo decifrar este código, resta uma possibilidade de se conhecer mais sobre os grupos étnicos da pré-história através da identificação dos componentes do sistema gráfico próprio de cada grupo e de suas regras de funcionamento. Efetivamente, cada grupo étnico possui um sistema de comunicação gráfico diferente, com características próprias. Assim, mesmo que não possamos decifrar a sua significação, será possível identificar cada um dos conjuntos gráficos utilizados pelos diferentes grupos. Quando os conjuntos gráficos permitem o reconhecimento de figuras e de composições temáticas, existe também a possibilidade de identificar os elementos do mundo sensível que foram escolhidos para ser representados. Esta escolha é de fundo social sendo também caracterizadora de cada grupo, pois oferece indicadores sobre os elementos do entorno e as temáticas que são valorizadas por cada sociedade.

Toca da Bastiana
As pinturas e gravuras rupestres são então estudadas com a finalidade de poder caracterizar culturalmente as etnias pré-históricas que as realizaram, a partir da reconstituição de um procedimento gráfico de comunicação que faz parte dos respectivos sistemas de comunicação social. Numa segunda instância, este estudo pretende, quando o corpus gráfico em questão fornece os elementos essenciais de reconhecimento, extrair os componentes do mundo sensível que foram escolhidos para fazer parte de tal sistema gráfico. Fica então excluída qualquer possibilidade de interpretação de significados, pois toda afirmação se situaria em um plano de natureza conjectural. Na perspectiva de estudo utilizada entende-se que a cada tradição gráfica rupestre pode associar-se um grupo étnico particular na medida em que se possa segregar conjuntamente outros componentes caracterizadores de natureza cultural, tais como uma indústria lítica tipificada, uma utilização própria do espaço ou formas específicas de enterramentos.

Em razão da abundância de sítios e da diversificação de pinturas e gravuras foi possível estabelecer uma classificação preliminar, dividindo-as em cinco tradições, das quais três são de pinturas e duas de gravuras.

As tradições são estabelecidas pelos tipos de grafismos representados e pela proporção relativa que estes tipos guardam entre si. Dentro das tradições podem-se, às vezes, distingüir sub-tradições segundo critérios ligados a diferenças na representação gráfica de um mesmo tema e à distribuição geográfica. Para cada tradição, ou se for o caso, sub-tradição é possível distingüir-se diferentes estilos que são estabelecidos a partir de particularidades que se manifestam no plano da técnica de manufatura gráfica e pelas características da apresentação gráfica da temática.

Duas das tradições, a Nordeste e a Agreste, já puderam ser datadas graças aos resultados das escavações e sondagens.

Na área do Parque Nacional, nos terrenos da bacia sedimentar, domina a tradição Nordeste de pintura rupestre. Ela é caracterizada pela presença de grafismos reconhecíveis (figuras humanas, animais, plantas e objetos) e de grafismos puros, os quais não podem ser identificados. Estas figuras são, muitas vezes, dispostas de modo a representar ações, cujo tema é, às vezes, reconhecível. Os grafismos puros, que não representam elementos conhecidos do mundo sensível, são nítidamente minoritários. As figuras humanas e animais aparecem em proporções iguais e são mais numerosas que as representações de objetos e de figuras fitomorfas. Algumas representações humanas são apresentadas revestidas de atributos culturais, tais como enfeites de cabeça, objetos cerimoniais nas mãos, etc. As composições de grafismos representando ações ligadas seja à vida de todos os dias, seja à cerimonial são abundantes e constituem a especificidade da tradição Nordeste. Quatro temas principais aparecem durante os seis mil anos atestados de existência desta tradição: dança, práticas sexuais, caça e manifestações rituais em torno de uma árvore. São também frequentes as composições gráficas representando ações identificáveis, mas cujo tema não podemos reconhecer; um exemplo deste caso é uma composição na qual uma série de figuras humanas parecem dispostas umas sobre os ombros das outras formando uma pirâmide, que faz evocar uma representação acrobática. Outro tipo de composição gráfica, que se acha com freqüência em todas as sub-tradições da tradição Nordeste, é designada como composição emblemática. Trata-se de figuras dispostas de maneira típica, com posturas e gestos de pouca complexidade gráfica, mas que se repetem sistemáticamente. Uma das composições emblemáticas desta tradição representa duas figuras humanas, colocadas costa contra costa e freqüentemente acompanhadas de um grafismo puro.

Graças à abundância de sítios e à sua larga distribuição espacial e temporal pudemos classificá-la em sub-tradições e estilos. Atualmente conhecemos as sub-tradições Várzea Grande e Salitre, no sudeste do Piauí e a sub-tradição Seridó, no Rio Grande do Norte.

A sub-tradição Várzea Grande, a mais bem estudada e representada, está dividida em estilos que se sucedem no tempo: Serra da Capivara , o mais antigo, Complexo estilístico Serra Talhada e Serra Branca, estilo final na área de São Raimundo Nonato. O estilo Serra da Capivara apresenta grafismos cujos contornos são completamente fechados, desenhados por traços contínuos e uma boa técnica gráfica. Na maioria das vezes, sobretudo quando o tamanho o permite, as figuras são pintadas inteiramente com tinta lisa. As representações humanas são pequenas, geralmente menores que as figuras animais. Estas últimas são, em geral, colocadas em um local visível e dominam o conjunto das composições; a cor dominante é o vermelho.

O estilo Serra Branca apresenta figuras humanas com uma forma muito particular do corpo, o qual foi decorado por linhas verticais ou por traçados geométricos cuidadosamente executados. Geralmente os animais são desenhados por uma linha de contorno aberta; alguns têm o corpo preenchido por tinta lisa, mas a maioria apresenta um preenchimento geométrico semelhante àquele dos seres humanos.

O complexo estilístico Serra Talhada é muito mais heterogêneo e possui diversas características classificatórias que não estão sempre presentes em todos os sítios pertencentes à classe, mas quando uma falta outra está representada.

A classe se caracteriza pelas séries de figuras humanas dispostas em linha e a utilização de várias cores (vermelho, branco, cinza, marron, amarelo), sendo comuns as figuras bicromáticas ou tricromáticas.

Aparecem também figuras com características gráficas muito peculiares, assim figuras humanas apresentam as extremidades exageradamente compridas; abundam também as figuras extremamente pequenas. A técnica de pintura do corpo das figuras se diferencia: além da tinta lisa e dos traçados gráficos complexos aparecem outros tipos, tais como pontos ou zonas reservadas.

Os dados atualmente disponíveis permitiram propor uma explicação segundo a qual esta sucessão de estilos não representa diferentes unidades estilísticas perfeitamente distintas e segregáveis, mas sim reflete uma evolução lenta e contínua que, durante cerca de 6.000 anos, introduziu micro-modificações no estilo básico Serra da Capivara. Isto levou a um desenvolvimento em contínuo da subtradição Várzea Grande, sendo o complexo Serra Talhada resultado desse processo evolutivo que acumulou micro-diferenças, as quais redundaram no estilo final Serra Branca.

As datações obtidas e a análise da indústria lítica confirmam as conclusões às quais chegamos, graças ao estudo das pinturas e gravuras rupestres. A tradição Nordeste, evidente desde há 12.000 anos, parece desaparecer da região por volta de -7.000/-6.000 anos.

Em certos sítios da bacia sedimentar Maranhão-Piauí, ao lado da tradição Nordeste, aparece, desde há 10.000 anos, a tradição Agreste. Ela se caracteriza pela predominância de grafismos reconhecíveis, particularmente da classe das figuras humanas, sendo raros os animais. Nunca aparecem representações de objetos, nem de figuras fitomorfas. Os grafismos representando ações são raros e retratam unicamente caçadas. Ao contrário da tradição Nordeste, as figuras são representadas paradas: não há nem movimento nem dinamismo. Os grafismos puros, muito mais abundantes do que na tradição Nordeste, apresentam uma morfologia bem diferente e diversificada.

A técnica de desenho e de pintura da tradição Agreste é de má qualidade, os desenhos são canhestros e não permitem, na maioria dos casos, a identificação das espécies animais. O tratamento da figura é limitado e de péssima feição.

A repartição espacial da tradição Agreste é, grosso modo, a mesma da tradição Nordeste. Entretanto, há regiões do norte e centro do Piauí e sudoeste de Pernambuco onde aparecem sítios com pinturas de tradição Agreste e onde nunca se encontraram pinturas Nordeste.

Na área arqueológica do Parque Nacional, a tradição Agreste apresenta diversidades estilísticas manifestas que levaram, numa primeira instância analítica, a propor-se sub-classes para esta região. Os estudos sobre esta tradição são, porém, ainda pouco desenvolvidos para que se possa ser mais preciso. Pode-se, entretanto, afirmar a existência de duas modalidades estilísticas que variam tanto na técnica utilizada como nas temáticas gráficamente representadas. Uma classe incluiria as pinturas cujas características são as típicas da classe feitas de maneira grosseira, de grande tamanho, sem preocupação pela delineação da figura e com um preenchimento realizado negligentemente, mas cobrindo extensas superficies. Outra modalidade da tradição Agreste que poderia constituir outra classe incluiria as figuras que são de menor tamanho, mas sempre maiores que as da tradição Nordeste, feitas com maior cuidado e com um preenchimento mais controlado e cuja tinta escorreu menos. Esta última, segundo os dados disponíveis, seria o mais antigo.

Não se conhece até agora o foco de origem da Tradição Agreste. Na área do Parque Nacional ela se encontra associada a uma indústria lítica grosseira, de técnica pouco aprimorada e que utiliza como matéria prima, prioritariamente, quartzo e quartzito.

A tradição Agreste é, inicialmente, periférica e suas manifestações são limitadas entre 10.500 e 6.000 anos BP atrás; com o desaparecimento dos povos de tradição Nordeste ela se torna dominante e passa a ocupar toda a zona por volta de -5.000 anos. Parece ter desaparecido entre 4.000/3.000 anos antes do presente.

Até hoje não foi realizada nenhuma escavação, unicamente algumas sondagens, em sítios pertencentes às outras tradições de registros rupestres da área. Deste modo, pouco podemos adiantar sobre elas além de uma descrição sumária.

A tradição Geométrica é caracterizada por pinturas que representam uma maioria de grafismos puros e algumas mãos, pés, figuras humanas e de répteis extremamente simples e esquematizadas. Esta tradição, segundo informações ainda pouco abundantes, pareceria ser originária do nordeste do Estado do Piauí. É na Serra de Ibiapaba, limite com o Ceará, onde existe a maior concentração até agora conhecida. O Parque Nacional de Sete Cidades é portador de sítios pertencentes a esta tradição de pinturas. Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, esta tradição aparece isolada em um único sítio na planície pré-cambriana, mas aparece também como intrusão gráfica em outros sítios, pois alguns grafismos foram feitos sobre painéis em abrigos das tradições Nordeste e Agreste.

Duas são as tradições de gravuras: Itacoatiaras de Leste, Itacoatiaras de Oeste. Para a primeira, temos resultados de prospecções e sondagens que demonstram que ela está ligada a povos caçadores-coletores. A segunda, foi datada de 12.000 anos em Mato Grosso, e aparece nesse Estado associada a uma bela indústria lítica que utilizou quartzito e sílex.

Itacoatiaras de Leste é uma tradição típica de todo o Nordeste brasileiro e seus painéis ornam as margens e leitos rochosos de rios e riachos do sertão, marcando cachoeiras ou pontos nos quais a água persiste mesmo durante a época da seca.

Itacoatiaras de Oeste, representada unicamente por grafismos puros, existe desde a fronteira da Bolívia até o limite oeste da área do Parque Nacional, indo para o sul, onde aparece até o norte de Minas Gerais. Os painéis desta tradição ornam paredes situadas perto de cachoeiras, lagos, fontes ou depósitos naturais de água. Um único sítio dessa tradição aparece na área do Parque Nacional, mas fora de seus limites.

É preciso também fazer menção de um único sítio de gravuras que apresenta características que são diferentes das duas tradições de gravuras acima mencionadas. Ainda não dispomos de elementos para afirmar se se trata de uma tradição diferente ou de um fenômeno isolado. As figuras gravadas representam uma maioria de grafismos puros e algumas formas animais e humanas muito esquematizadas. O sítio Caldeirão do Deolindo é um depósito natural de água – um caldeirão – e está situado dentro do Parque Nacional, no alto da chapada.

Por Museu do Homem Americano