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A Invenção de Hugo Cabret

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A Invenção de Hugo Cabret

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Invenção de Hugo Cabret, A (Hugo, 2011)

Estreia oficial: 23 de novembro de 2011
Estreia no Brasil: 17 de fevereiro de 2012
IMDb

Nunca imaginei que veria os filmes de George Méliès no cinema… E ainda mais em 3D! Portanto, para esta apaixonada pela História do Cinema que vos escreve, “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, tem um ‘gostinho’ a mais. Foi impossível não sorrir e me emocionar ao ver fragmentos tanto das obras de Méliès quanto de outros grandes cineastas do cinema mudo projetadas na telona.

Porém, não se pode deixar levar apenas pela emoção e, analisando o filme de Scorsese mais friamente, é impossível não notar algumas ‘notas dissonantes’ no resultado final. É como se, de um lado, o diretor acertasse em cheio ao resgatar a memória da Sétima Arte, e o espírito de se preservar a história; porém, de outro, Scorsese ‘pesa a mão’, em uma história que se estende além do necessário e possui um bom número de personagens secundários totalmente irrelevantes para a narrativa.

O roteiro de John Logan (baseado no livro de Brian Selznick) conta como o órfão Hugo Cabret (Asa Butterfield), vivendo no interior das paredes de uma grande estação ferroviária de Paris, e tentando consertar um autômoto deixado por seu pai (Jude Law), acaba descobrindo a verdadeira identidade de um ranzinza vendedor de brinquedos (Ben Kingsley). Claro que, para isso, vai contar com a ajuda da filha adotiva do tal vendedor, Isabelle (Chloë Grace Moretz), ao mesmo tempo em que tenta escapar da perseguição implacável do inspetor da estação (Sacha Baron Cohen).

É bom deixar claro que o filme (assim como o livro em que é inspirado) é uma obra de ficção, e acaba ‘alterando’ a história do Cinema – mais especificamente a de Méliès – para torná-la mais dramática. E Scorsese parece ter achado a obra ideal para falar de uma de suas grandes paixões: o Cinema em si, e a necessidade da preservação da sua origem. Assim, no que diz respeito a esse aspecto o longa é impecável, e nos remete a uma verdadeira viagem aos princípios da Sétima Arte, mostrando trechos de “A Chegada do Trem na Estação” e “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière” (ambos de 1895, dos irmãos Lumière), “O Beijo” (1896, de William Heise), “O Grande Roubo do Trem” (1903, de Edwin S. Porter), “Intolerância” (1916, de D. W. Griffith), “O Garoto” (1921, de Charles Chaplin), “A General” (1926, de Buster Keaton), “A Caixa de Pandora” (1929, de Georg Wilhelm Pabst), apenas para citar os que reconheci logo de cara (além, claro, de partes dos diversos filmes de Méliès).

Impecável também é a qualidade técnica do longa: desde seus grandiosos e cuidadosamente montados cenários (o interior das paredes da estação de trem; a própria estação, imponente; a amontoada livraria de Monsieur Labisse – Christopher Lee; a perfeita recriação do estúdio de Méliès), passando pela bela fotografia de Robert Richardson, que aposta principalmente no tom amarelado (ou sépia), além da edição fluida e que consegue mesclar (sem que percebamos) elementos reais com os virtuais, o excelente trabalho da equipe de efeitos especiais, e a ótima utilização do 3D.

Porém, ao voltar-se para a trama principal, envolvendo o jovem Hugo e sua busca em consertar o autômato – único elemento que ainda o liga ao seu falecido pai, Martin Scorsese parece meio perdido (talvez por estar pisando em um território novo, já que nunca havia comandado uma aventura infanto-juvenil), e abusa do melodrama. Sem contar, como falei, as inúmeras tramas paralelas que nada beneficiam o desenvolvimento da história e acabam fazendo justamente o contrário: tornam a narrativa mais arrastada e cheia de ‘barrigas’. E ainda que contem com atores de gabarito como Christoper Lee, Richard Griffiths, Frances de la Tour e Emily Mortimer em boas perfomances, e possam até garantir uma ou outra risada pelo caminho, acabam servindo apenas para reiteração de um discurso já entendido pelo restante do contexto da obra.

Mas como falei no início, “A Invenção de Hugo Cabret” encantou-me de uma forma toda particular, e o resultado final, apesar de não ser perfeito, soou-me muito além do satisfatório. Além é claro, da mesma forma que “O Artista“, possuir todo o mérito de resgatar um período da História do Cinema para novas gerações.

Fica a dica!

por Melissa Lipinski
Cinema com Mel

O Artista

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ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

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Estreia oficial: 12 de outubro de 2011
Estreia no Brasil: 10 de fevereiro de 2012

Quando vemos George Valentin (Jean Dujardin), o protagonista de “O Artista”, pela primeira vez, logo no início do longa, as primeiras palavras que saem da sua boca são: “Não vou falar! Não direi uma palavra”. Palavras essas que, logo após serem pronunciadas sem emissão alguma de som, aparecem escritas em uma cartela. E não demora muito para descobrirmos que na verdade, esta cena faz parte de um filme protagonizado por Valentin, um renomado ator do cinema mudo em Hollywood. E assim, logo em sua primeira cena, o diretor Michel Hazanavicius dita o tom de seu filme: sim, estamos assistindo a uma versão moderna do cinema mudo, que vai falar exatamente sobre a transição deste para o falado (ou os ‘talkies’, como diziam na época nos Estados Unidos), e ainda repleto de metalinguagem – afinal não apenas o personagem de Geroge Valentin nega-se a dizer uma palavra, como ele próprio (personagem de Dujardin), negar-se-á a ‘abraçar’ o cinema falado, acreditando (assim como vários grandes atores realmente acreditavam à época) que o som apenas destruiria a magia do Cinema.

Mas estou me adiantando… O roteiro, escrito pelo próprio Hazanavicius, é como uma mistura de “Cantando na Chuva” com “Nasce uma Estrela”. George Valentin, como falei, é um grande astro de Hollywood e, em uma estreia, acaba esbarrando com a carismática Peppy Miller (Bérénice Bejo), que dá um beijo no rosto do grande ator. Claro que o fato vira manchete dos principais jornais e, agarrando-se à oportunidade, Peppy vai para Hollywoodland (como então se chamava) tentar a carreira de atriz. E consegue, ainda mais com o advento do som. E acaba se tornando uma das principais estrelas desta fase. Já George Valentin, negando-se a se atualizar, acaba sendo esquecido pelos ‘holofotes’, e entra em uma grande crise, tanto econômica quanto pessoal.

A história não traz nada de novo, e é até um tanto quanto previsível, mas é a forma como é contada aqui, o grande diferencial de “O Artista”. Colocando-se desde o princípio não como uma crítica à Hollywood (como “Crepúsculo dos Deuses”, ao qual muitos poderão achar várias similaridades), mas sim como uma grande homenagem à indústria cinematográfica estadunidense, “O Artista” recria em (quase) tudo a estrutura narrativa dos filmes mudos do final da década de 1920. Desde o formato ‘square’ ou standard (4×3) dos antigos filmes, como muitas transições e efeitos (a sobreposição de imagens, por exemplo) que eram comuns nestes filmes, e também a constante trilha musical (de Ludovic Bource) presente em praticamente todas as cenas e que dita o ritmo e o tom da narrativa, como realmente acontecia, sem apelar para o óbvio.

Porém, o longa de Hazanavicius também é bastante contemporâneo, com sua qualidade de imagem límpida e sua montagem dinâmica e inteligente, e que conta com transições e ‘trucagens’ bastante inspiradas, como no plano em que vemos Peppy maquiar-se na frente do espelho, sendo que sua própria mão é, rapidamente, substituída pelas mãos de maquiadoras profissionais, marcando assim, a sua ascenção na carreira.

Mas embora toda a homenagem a Hollywood seja belamente retratada e garanta um grande charme à producão, são mesmo as atuações que elevam o valor de “O Artista”. E é engraçado (pra não dizer irônico) que os grandes protagonistas deste filme não sejam estadunidenses: Jean Dujardin é francês (lembrando que o longa é uma co-produção entre França e Bélgica) e Bérénice Bejo é nascida na Argentina mas cresceu em Paris.

Dujardin cria seu George Valentin como uma mistura de Rodolfo Valentino (a homenagem está até no seu nome) e Douglas Fairbanks (principalmente no bigode), onde sua simpatia equivale-se em tamanho ao seu orgulho. E quanto a Bérénice Bejo, não há como não se apaixonar por sua Peppy, com seu olhos marcantes e sorriso gigantesco, tamanho seu carisma, simpatia e expressividade. Há ainda o ótimo trabalho de John Goodman como um produtor de um grande estúdio, e James Cromwell como o motorista de Valentin. Assim como a pequena participação de Malcolm McDowell. Como não há falas, os atores podem brincar com sua expressão facial e corporal, fazendo isso de maneira extremamente hábil e conseguindo fugir das armadilhas fáceis dos estereótipos.

Mas quem rouba mesmo a cena é o engraçadíssimo cachorrinho de George Valentin. Um verdadeiro ator, extremamente treinado e ensinado, encanta a todos com seus truques e sua lealdade. A ótima cena do café da manhã já bastaria por ser uma homenagem a “Cidadão Kane”, mas ganha um tom mais engraçado devido à atuação do carismático animal.

Contando ainda com uma bela fotografia que, em alguns momentos, lembra o expressionismo alemão; uma direção de arte e figurinos impecáveis; e uma edição de som (de uma cena em particular) que chama a atenção pelo seu apuro e originalidade, “O Artista” não é apenas uma homenagem ao cinema mudo, mas a Hollywood como um todo. Afinal, de uma forma engraçada e comovente, leva-nos a um passeio por dentro de parte da história do Cinema, que vai culminar com o advento do gênero que determinou de maneira definitiva a soberania de Hollywood mundialmente: os musicais.

E, se não bastasse a coragem e ousadia de Michel Hazanavicius em produzir um filme mudo em plena era do 3D, ele ainda o faz com extrema segurança e talento, colocando “O Artista” no rol daqueles grandes filmes metalinguísticos e que reverenciam a própria história do Cinema.

Fica a dica!

por Melissa Lipinski
Cinema com Mel

Surpreendente. Em pleno 2012 assistir a um filme mudo no cinema. Um lançamento.

“O Artista” consegue ter uma boa história que pode ser contada com pouquíssimas falas. E obviamente as falas vêm escritas em tela preta.

O elenco está muito bem. Destaque para a bela atuação de John Goodman. E um super destaque para o cachorro, toda vez que aparece ele rouba a cena.

A mixagem de áudio é muito boa nas duas cenas em que há sons. Bem como a trilha sonora que apesar da necessidade de estar presente o tempo todo, não nos cansamos dela.

Vale a pena!

Por Oscar R. Júnior

Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres

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Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011)

Estreia oficial: 20 de dezembro de 2011
Estreia no Brasil: 27 de janeiro de 2012

Quando soube que “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” iria ganhar uma versão estadunidense fiquei apreensiva. A versão sueca dos livros de Stieg Larsson era correta e, ainda que não mantivesse uma grande fidelidade narrativa à obra literária, o cerne de sua protagonista e, consequentemente, do livro, havia sido preservado. No entanto, ao saber que a versão yankee seria comandada por David Fincher, a apreensão deu lugar à ansiedade. Admiradora do trabalho do cineasta, confesso que a esperança de ver um filme ainda melhor que o original sueco superava o receio da ‘americanização’ da história.

E meus anseios, felizmente, confirmaram-se. Muito mais fiel à obra de Larsson, o longa comandado por Fincher evita a tal ‘americanização’ (apesar de ser falado em inglês), principalmente por preservar a localização da sua trama na fria Suécia, o que colabora não apenas para o desenvolvimento da história (já que os cenários são realmente importantes para que ela aconteça), mas também contribui para a sua estética; além de ser um respeito e uma homenagem ao seu autor e à obra original.

Como falei, o roteiro de Steven Zaillian mantém-se fiel ao livro, não só no que tange ao comportamento de seus personagens, mas também (e o que a versão sueca não fazia) à sua estrutura narrativa. Logo no início vemos o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) sendo condenado por ter escrito e publicado uma matéria na qual acusava um poderoso empresário sem provas materiais e contundentes. Para não afundar ainda mais a sua revista, Millennium, Blomkvist decide aceitar uma proposta um tanto quanto inusitada do milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer): investigar o desaparecimento de sua sobrinha favorita, Harriet, ocorrido há 40 anos, e cujo possível assassino só poderia pertencer à própria família Vanger, que aliás, é repleta de tipos, no mínimo ‘curiosos’, como ex-nazistas e pessoas nem um pouco amigáveis ou simpáticas. Para essa investigação Mikael acaba solicitando a ajuda da hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara), que havia levantado a sua ficha pessoal e profissional para que o próprio Henrik Vanger descobrisse um pouco mais a respeito do jornalista. Acontece que Salander tem seus próprios problemas: considerada incapaz, desde os 12 anos foi colocada sob tutela do Estado, e ‘coleciona’ uma sucessão de episódios violentos em sua vida. Assim, Salander e Blomkvist passam a investigar o suposto assassinato, revelando segredos há tempos escondidos pela família Vanger.

Bom, se considerássemos apenas os aspectos técnicos, o longa de Fincher já mereceria todos os aplausos possíveis. A começar pela sua excelente e criativa abertura que, através de suas formas, revela toda a confusão que cerca a vida e a personalidade da protagonista, Lisbeth. Já a fotografia de Jeff Cronenweth acerta na maneira como transforma as paisagens brancas (de neve) da Suécia em ambientes sufocantes e frios, que refletem, talvez, a natureza dos próprios personagens, e que só é amenizada nos raros momentos em que vemos Mikael Blomkist com sua filha. Assim como a inteligente escolha em manter enquadramentos que, posteriormente na história, entenderemos seu real significado, como manter Lisbeth ao fundo e desfocada, quando vemos, em primeiro plano, a foto da família de seu tutor, Nils Bjurman; ou quando ele mesmo levanta-se de sua mesa e a câmera mantém-se baixa, na altura de sua barriga – o que, aliado a eventos futuros, transformam-lo em uma figura repulsiva; ou ainda, no apartamento de Bjurman, como a câmera afasta-se (num travelling out) de uma porta fechada, como que não querendo revelar o que está prestes a acontecer lá dentro.

Igualmente competente é a sua direção de arte, que transforma cada residência numa espécie de prolongamento do seu dono, e revela muito de sua personalidade pelas suas cores, objetos e arrumação, por exemplo (o que acaba tornando-se essencial para o bom andamento da trama, já que tal fato ajuda no desenvolvimento e na diferenciação do grande número de personagens que aparecem).

Mas, de todos os aspectos técnicos, certamente é a montagem de Kirk Baxter e Angus Wall que merece maior destaque. Levando de forma paralela as histórias de Salander e Blomkvist até quase a metade do longa, a narrativa jamais perde a fluidez; isso sem contar que ainda possui um terceiro aspecto: os inúmeros flashbacks que contam a história passada de Harriet. Sem nunca perder o ritmo, os 158 minutos de filme jamais parecem se fazer notar, tamanha a agilidade e habilidade com que os montadores ‘orquestram’ as várias linhas narrativas.

Aliado a isso, David Fincher consegue criar um clima de apreensão que percorre a sua história do início ao fim, sem com isso, descuidar do desenvolvimento de seus personagens centrais. E é notável que o diretor confie tanto em seus personagens que mantenha a estrutura narrativa do livro de Larsson, onde continua a história mesmo depois do seu conflito principal ter sido solucionado – e se isso pode funcionar bem na literatura, é um artifício bastante arriscado no cinema. Mas o diretor consegue manter o espectador atento não só à solução da ação, digamos assim, mas também ao desfecho particular de seus protagonista, numa espécie de epílogo que dura mais de 10 minutos.

Mas o longa é mesmo de seus dois protagonistas. Daniel Craig consegue tornar o seu Mikael Blomkvist milhões de vezes mais interessante do que o protagonizado pelo sueco Michael Nyqvist. Seu jornalista é inteligente e ‘durão’, porém não da mesma forma impassiva com que Craig interpretava James Bond ou seu personagem em “Cowboys & Aliens“, por exemplo. Aqui, o ator demonstra muito mais sensibilidade e empresta detalhes a Mikael Blomkvist que o tornam mais ‘real’, como seu semblante atemorizado quando se vê em situações de perigo, ou sua insegurança quando está em um avião, apenas para citar duas características.

Mas é mesmo Rooney Mara a ‘alma’ do filme. Se Noomi Rapace já conseguira transformar Lisbeth Salander em uma criatura extremamente complexa e paradoxal num visual bastante peculiar, Mara vai além, numa composição ainda mais audaz. Se seu ‘look punk’, com suas roupas pretas, seu penteado ousado e seus piercings são intimidadores, a postura da garota diz exatamente o contrário: andando levemente ‘encolhida’, com os ombros contraídos, Lisbeth evita encarar as pessoas com quem fala (a não ser em momentos de maior tensão ou intimidade) – como se quisesse se enconder do mundo e, ao mesmo tempo, chamar sua atenção; e se consegue ser fria e mal educada com a grande maioria dos seres humanos, recusando-se a um mero cumprimento, mostra um carinho filial com seu antigo tutor, Holger Palmgren. Mara ainda consegue sutilezas na sua interpretação que revelam muito de sua personalidade, como no momento em que Blomkvist vai mostrar-lhe algo no computador e ela, nitidamente (ainda que discretamente) mostra-se irritada pela sua lerdeza (lembrem-se que ela é uma hacker, e das melhores!); ou no momento em que, depois de um ato covarde de violência, decide realizar mais uma tatuagem exatamente sobre um local machucado da sua perna e, ao ouvir o tatuador alertá-lo sobre a dor que sentirá, apenas dá de ombros, como se aquilo não fosse nada comparado às várias ‘porradas’ que já levou da vida – e notem o paradoxo: apesar de suas maneiras e suas roupas serem hostis e agressivas (em uma determinada cena, sua camiseta traz escrito “fuck you, your fucking fuck”), sempre que é vista se alimentando, está comendo um Mc Lanche Feliz. Porém, Lisbeth não é indefesa, e se transforma em um verdadeiro ‘animal’ quando se sente ameaçada, capaz de cometer atos tão violentos quanto os que sofre – o que a transforma em uma pessoa extremamente imprevisível e realmente perigosa. E, assim como nos identificamos pela sua fragilidade e a admiramos pela sua inteligência muito acima da média, também sentimo-nos inseguros frente à sua instabilidade emocional e carência de traquejo social.

Enfim, “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres” não é apenas um thriller investigativo extremamente eficiente, mas um excelente estudo de personagens. E, assim como Noomi Rapace já o fizera, Rooney Mara transforma Lisbeth Salander numa das (anti-)heroínas mais interessantes e complexas da história do Cinema.

Agora o grande problema: David Fincher conseguiu me deixar ainda mais angustiada do que estava antes de assistir ao filme, já que não vejo a hora de encontrar novamente Lisbeth e Blomkvist nas suas duas continuações…

Fica dica!

Por Melissa Lipinski
Cinema com Mel

Regravação do excelente filme sueco. Confesso que quando soube que iam regravar fiquei com pé atrás. Mais uma regravação!! Daí vi que quem ia dirigir era, nada mais nada menos, que David Fincher (“Clube da Luta”, “Seven”, “A Rede Social“). Após ver o filme, porém, percebo que a decisão foi muito acertada. Não que a versão sueca seja ruim, mas esta nova versão é muito melhor.

Os personagens: Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é muito melhor construído. Agora sim pudemos ver tudo o que esta personagem tinha a mostrar. Já a Lisbeth Salander (Rooney Mara) consegue superar a Lisbeth da versão sueca (e olha que Noomi Rapace estava excelente naquele filme). Lisbeth por um lado se veste de forma mais agressiva, no estilo punk, e anda sem encarar as pessoas, de cabeça baixa, tentando passar desapercebida. Ao se sentir acuada ela parte para o ataque como um bicho feroz. Muito boa a construção e a atuação de Rooney Mara.

Junte a tudo isso uma direção primorosa, cenários que fazem valer a pena o filme se passar na Suécia e uma montagem muito bem construída e executada.

Recomendo muito. (Também recomendo ver a trilogia original).

Por Oscar R. Júnior
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Trailer (legendado)